segunda-feira, 29 de setembro de 2014

As crianças e os comportamentos menos positivos: tudo se resolve no psicólogo, ou então não




Ai o meu menino não se está a dar bem na escola, entrou há uma semana e já está sozinho na carteira e tem caras amarelas ou vermelhas nas fichas diárias de avaliação. Vou leva-lo a um psicologo, não pode ser, coitadinho do meu menino. 


Ouço várias vezes este comentário sendo que a última foi este fim de semana e o meu pensamento é sempre o mesmo: e os pais falarem com a criança e procurarem compreender o que se passa? 


Não, nada disso. Os pais passam verdadeiros atestados de incompetência parental porque no fundo têm medo de errar e acham que têm de ser outros e de preferência psicologos a resolverem questões que são da sua única responsabilidade, que deviam ser resolvidas na família em conjunto. Porque os psicologos é que sabem, porque o meu filho(a) só pode ter uma doença qualquer e nem pensar que a criança pode precisar de algum tempo para se adaptar, que há algo que não goste, que se sente desacompanhada porque os pais não falam com ele(a). Não, hoje em dia tudo é uma doença qualquer para a qual há comprimidos milagrosos.

As crianças sentem medo do desconhecido, sentem-se inseguras e com medo de falhar, a entrada num infantário ou na escola seja no primeiro ano, seja em outros anos é sempre um momento stressante e angustiante para a criança. Depois dependendo do tipo de personalidade de cada um, da forma como foram educados a lidar com questões novas a reação vai sendo diferente. Há os que vão em frente não querendo demonstrar o que sentem e remoem ou choram num canto em silêncio. Há os que exteriorizam tudo e choram todos os dias à porta da escola , há os que se sentem revoltados e reagem descarregando o seu mal-estar nos professores e nos colegas. Há muitas reações para o mesmo sentimento: medo do que não se conhece, medo de falhar e de ser castigado. 

A primeira abordagem tem de ser sempre feita pelos pais com calma, muita paciência e muito carinho.  Têm de conversar com os vossos filhos, não há outra forma, ouvir o que eles sentem com a mente aberta, aceitar o que eles vos dizem - ainda que tenham de ouvir o que não queriam - apoia-los e incentiva-los tantas vezes quantas sejam necessárias. É preciso compreender que o mau comportamento é revelador de problemas profundos que têm de ser tidos em conta o mais rapidamente possível para que não evoluam para situações mais graves. Não é castigar por mau comportamento que se evita que o mesmo se repita é preciso entender o porquê de um determinado comportamento e perceber o que pode ser feito para que não se volte a repetir, castigos em excesso só aumentam mais ainda os comportamentos indesejados. 

Os pais são quem sabe o que é melhor para os seus filhos. Todos temos dentro de nós a capacidade para os ajudar, mas hoje em dia muitos pais parecem não acreditar nisto, ou então com medo de falhar preferem que seja outra pessoa que nem sequer conhece a criança que tem à sua frente a resolver questões que são da competência dos pais. 

Vou partilhar convosco algumas dicas que vos ajudem

- Antes de mais nada lembrem-se como eram quando tinham a idade do vosso filho e como se sentiram quando entraram para a escola, peçam ao outro pai para fazer o mesmo. Quase de certeza que vão encontrar semelhanças entre comportamentos que vocês tiveram e que os vossos filhos estão a ter. 

(Exemplo e eu e o marito fomos crianças reservadas, que não gostavam de confusão, que não tinham muitos amigos e que nas aulas queriam tudo bem feito e nem pensar em ter mau comportamento. Está bom de ver que o pimpolho é igual: é pacato, não gosta nada de colegas turbulentos, quer tudo bem feito e só quer ter caras verdes na folha de avaliação).

- Ouçam os vossos filhos. Sabem porque é que temos dois ouvidos e uma boca? Para escutarmos mais do que falamos. Digam-lhe que vos podem contar tudo, mesmo tudo porque vocês querem ajuda-lo. 

- Não gritem, não ameacem com mais castigos, não lhe digam que são maus (podem pensar isto tudo e sentirem-se frustrados, mas não o verbalizem). 

- Encontrem sempre o lado positivo e tentem caminhar de forma a encontrar soluções. Sejam assertivos, comecem com regras simples. 

- Expliquem-lhes quais as consequências do comportamento (exemplos: os meninos não vão gostar deles, não vão ter ninguem com quem brincar, a professora fica triste com esse comportamento, os pais estão tristes com as caras amarelas ou vermelhas).

- Se a falha é vossa, aceitem-na e façam tudo para corrigir o vosso erro e muito importante reconheçam e peçam desculpa aos vossos filhos. Vocês não têm de ter imagens perfeitas perante os vossos filhos, não é vergonha nenhuma mostrar que se errou, aliás só assim vocês podem fazer com que eles admitam os erros deles. 

- Falem com o(a) professor(a) e procurem soluções em conjunto.

- Mas o mais importante é que percebam que são os responsaveis pelos vossos filhos, que não há fórmulas mágicas, que não há teorias que sejam leis, que ninguém conhece melhor os vossos filhos ou que vai operar milagres. 

- Tudo se resume à família: num ambiente de diálogo mutuo, de abertura, de acompanhamento desde os primeiros meses de vida dos nossos filhos, de estabelecimento de regras desde pequenos, tudo acaba por fluir. Claro que problemas vão sempre existir, mas se houver alguns destes alicerces será mais fácil corrigi-los.




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