quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Vocês já sabem que embirro um bocado com o politicamente correto

Por isso não se espantem com o que vou dizer a seguir.


 Vivemos numa sociedade onde uma grande percentagem das pessoas goza com as "diferenças" dos outros. Seja a cor da pele, seja a nacionalidade, seja o sexo, seja o peso em excesso ou a menos. Só provando que aquilo que se diz das crianças - de serem crueis - é uma grande conversa porque os adultos são ainda mais crueis. Primeiro as crianças comentam aquilo que observam ou repetem aquilo que ouviram um adulto comentar acerca de outra pessoa, mas não têm muitas vezes a noção real do significado das palavras (podem saber por alto, mas não com o mesmo sentido que um adulto). É aqui que tudo começa. Ou os pais têm a capacidade para explicar à criança que não se deve gozar com as diferenças nos outros, porque isso os deixa tristes e que ninguém é superior ao outro, que as pessoas são diferentes entre si mas isso é normal e que se te dissessem a ti também não ias gostar nada. Ou se não se dão a esse trabalho, porque até acham piada e eles também o fazem, então o comportamento vai-se manter para sempre. Deixem-se de lá de coisas, porque os adultos continuam a ter muitos dos mesmos comportamentos que tinham no recreio da escola pela vida fora aplicados a tantas outras situações.

Outra fenómeno existente nos meios de comunicação social, em determinadas áreas da psicologia é a de tentar adoçar os insultos. Então utilizam-se determinados termos em vez dos outros considerados prejurativos, mas que querem no fundo dizer a mesmissima coisa. O mais comum entre as mulheres é o termo cheínha para designar pessoas obesas. Irrita-me este vocábulo, é muito mais ridiculo que os termos gorda ou obesa (aos homens não se chama cheínhos chama-se mesmo gordo ou obeso). Se eu estivesse gorda (e psicologicamente tenho dias em que me sinto uma baleia azul, mas isso é só na minha cabeça) iria-me sentir muito mais ofendida se me chamassem cheínha do que gorda. 

É assim como dizer coitadinha de ti não te quero discriminar, mas como também tens mais peso do que seria normal arranjei este adjetivo tão engraçado e fofinho. 



Acerca da cor da pele conto-vos uma breve história do meu pimpolho quando viu pela primeira vez um menino mulato. Teria aí uns 20 meses e estavamos na fila do supermercado quando ele se vira para mim e diz: mãaaa tá ali um menino peto! Eu olhei para ele com uma cara séria e o pobre coitado corrigiu muito depressa: mãaa tá ali um menino castanho. Bem digo-vos uma coisa não faço ideia como é que não desatei à gargalhada com esta correção, porque para o meu pimpolho - que estava a aprender as cores - a minha cara séria levou-o a pensar que se tinha enganado na cor. Como disse uma vez um professor meu os negros não são negros são castanhos, certo?

Mas esta cena fez-me pensar que eu tinha sido um bocado parva e que claro está o pimpolho não ia adivinhar que poderia ofender alguem, estava apenas a constatar que a cor daquele miudo não era igual à nossa. Mais tarde e depois de ter visto chineses e indianas vestidas com o sari, mais os amiguinhos do Ruca foi fácil explicar-lhe que há pessoas de cores diferentes e feições diferentes e que isso não tem nada de especial. Simples e eficaz, não vale a pena inventar ou colocar preconceitos na cabeça dos miudos.

 

A minha mãe sempre me disse que mais vale o mal de inveja do que o bem de piedade e pronto eu fui moldada assim e por isso acho que arranjar adjetivos fofinhos ou substituir um vocábulo por outro é uma forma de piedadezinha balofa e uma forma subtil de continuar a perpetuar as diferenças. 

Por esta altura já não deviamos andar com estes salamaleques porque há quase 7 biliões de seres humanos com as suas características unicas e já sabemos que os há de várias cores, formatos e feitios.

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